segunda-feira, 7 de junho de 2010

Capitulo 10 – Medo


“O que é o medo? Meras palavras que descrevem uma situação ou um momento em que estamos vivendo. Ou sera apenas quatro letras que resume a perda de algo. Não importa seja como for o medo faz tormarmos decisoes que um dia poderemos nos arrepender.”

"O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras - acho que estou entre elas - aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação."
 (Ayrton Senna)

Aquela conversa toda me deixou confusa. Sai e não entendi nada. Sabrina tinha me oferecido um emprego, e realmente eu estava precisando de dinheiro. Minha mae não ganhava muito e estavamos precisando de dinheiro. Mas que emprego poderia ser esse?
Do que ela poderia estar falando? Ela saiu e me deixou somente seu nome, se esse era realmente seu nome, e seu celular.

Fui para casa. Estava frio e um pouco escuro. O clima tedioso nem tempo. Começaria a nevar logo, logo... A verdade era que aquela conversa toda estava me pertubando e ate certo ponto me irritando. Tudo agora estava horrivel para mim. Quando cheguei em casa minha mae já havia chegado. Estranhei, ela so chegaria depois das oitos. Ela estava no seu quarto. Me encostei na porta e percebi que ela estava chorando. Provavelmente algo tinha acontecido. Desde que viemos morar aqui nunca vi minha mae chorando.

Entrei para meu quarto. Me detei. Nem percebi que eu estava tão cansada assim. Algo em minha mente e alma estava confusa. Não entendia a cena que havia acontecido hoje a tarde. Tambem não compreendia por que eu estava tão aflita. Acabei de adormecendo. E quando acordei escutei um leve mormurar de vozes na cozinha-sala. Fui ate perto da minha porta de quarto e escutei a minha mae falando...

Natalia: - Não pode ser. As contas estão maiores que no inicio. Não estou conseguindo pagar todas. Maldito Jorge. Nos deixou na ruina. Como eu vou pagar essas contas do cartão? Estão antigas e ainda sim, não consigo pagar.

Aquilo me deu medo. Medo de estar perdendo um pouco da dignidade que ainda tinhamos. Onde parariamos com isso tudo? Mesmo depois de preso o maldito do meu pai, nos trazia prejuizo!

Voltei a mim deitar. Teria que tomar uma decisão o mais antes melhor.

Custei a dormir novamente. Eram tres horas da manha. E ainda não consiga dormir. Minha mae já havia ido dormir. O que sera que esta acontecendo comigo? Onde sera que vai acontecer comigo.

Eu não tinha certeza do que iria acontecer comigo. Mas não duvidei. Peguei meu celular. E fui na minha mochila. Olhei para aquele numero como se fosse uma pedra de ouro diante dos meus olhos.

Disquei o numero. Um toque. Dois toques. Tres toques. Já estava pensando que estava louca. Quem estaria acordado as tres e meia da manha? O quinto toque. Um estralo na linha. Atendeu!

Xxx: - Alo? – era uma voz masculina.
Rose: - Por favor a Sabrina Alburqueque?
Xxx: - Um momento vou chama-la.
Rose: - Tudo bem.

Esperei um pouco, ate ouvir um clique na linha. Então ouvi uma voz feminina falando.

Xxx: - Alo?
Rose: - Sabrina?
Sabrina: - Sim, quem deseja?
Rose: - Sou eu. A Rose, a menina que voce falou hoje de tarde. Ou melhor ontem de tarde.
Sabrina: - Sei quem voce é. Mas sinceramente pensei que voce demoraria para me ligar.
Rose: - Esperava? Entendo.
Sabrina: - Então voce pensou na proposta?
Rose: - Sim.
Sabrina: - Sua ligação já me diz sua resposta. Bom não posso demorar. Tenho trabalho para fazer ainda. Me encontre na Rua 15 com a Avenida 25, hoje depois da escola.
Rose: - Mas ...
Sabrina:  - Mas nada. Apareça lá. Se não esqueça o emprego.
Rose: - Ok.

Nem deu tempo para falar mais nada. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa ela já havia desligado o telefone. Bom! Agora já era tarde. Já começava entrar na minha mente o tipo de trabalho que ela fazia. E meu estomago começou a se remexer.

O dia amanhaceu, e eu dormir bem pouco. Hoje era sexta. Então teria todo o fim de semana para pensar. As aulas passaram muito devagar.  A verdade que eu não estava prestando atenção em nada. Nem em ninguem. Era o segundo dia que a Gabi faltava. Estava me sentindo sozinha. Nunca havia me sentindo tão so, depois que conhecia a Gabi, como estou me sentindo agora.

Quando sai. O João estava lá como sempre. Todos pensavam que ele estava namorando ou comigo ou com a Gabi. E morriam de inveja de mim. Mas depois que perceberam que a Gabi sempre sentava no banco de tras, os boatos so viraram para mim. Otimo! Chame a atenção sua idiota!

João:  - Rose!
Rose: - Ola João.
João: - Cade a Gabi?
Rose: - Doente.
João: - Poxa nem sabia. Vamos fazer uma visita a ela hoje?
Rose: -Não vai da João. Tenho que me encontrar com uma amiga.
João: - Amiga?
Rose: - Sim, não posso?
João: - Claro que pode. So que me surpreendi, pois não conheço ela.
Rose: - E precisa voce conhecer?
João: - Calma Roh. So to perguntando.
Rose: - A curiosidade matou o gato.
João: - Ok. Ok. Morre esse assunto aqui. Vamos?
Rose: - Para onde?
João: - Oras para a casa da sua amiga.
Rose: - Faremos assim. Me deixe na Rua 14 com a Avenida 25, que de la eu vou sozinha. Ae deixo voce feliz e me faço feliz tambem.
João: - Não gostei muito da ideia. Mas tudo bem.

Entrei. Fomos calados o caminho todo. Ele me olhava, mas eu fingia que nem percebi. Realmente eu estava mais preocupada era com o que viria a acontecer. E não com o  João.

João: - Senhorita...
Rose: - Obrigado João.
João: - Disponha.

Ele entrou no carro e saiu. Eu esperei para ter certeza que ele não me seguiria. Caminhei um pouco. E logo vi uma moça na esquina 15. Ruiva. Estava bem vestida. Usava uma saia e um casaquinho de lã. A ultima moda em Chicago eu me lembro. Ela olhava o relogio quando me aproximei.

Rose: - Sabrina?
Sabrina: - Voce demorou. Estamos atrasadas.
Rose: - Atrasadas?
Sabrina: - Sim. Vamos logo.

Caminhamos por umas ruas. E logo chegamos em uma casa. Quem visse pensaria que era apenas um sobrado. Um pensionato talvez. Mas eu tinha certeza que era muito mais que isso.

Sabrina: - Preparada?
Rose: - Para que?
Sabrina: - Não venha me dizer que não percebeu de que tipo de trabalho estou falando.
Rose: - Já me veio em mente sim. Não me é de se admirar.
Sabrina: - Bom, que seja! Preparada?
Rose: - Mas já?
Sabrina: - Claro!
Rose: - Mas eu não posso.
Sabrina: - Não pode ou não quer?
Rose: - Não posso e sinceramente não quero muito, mas eu preciso. Mas o problema não é isso. Não avisei para minha mae.
Sabrina: - Inventa qualquer mentira.
Rose: - Mentira?
Sabrina: - Não venha me dizer que voce nunca mentiu para sua mae?
Rose: - Sim. Mas faz tanto tempo que eu não minto com ela, que...
Sabrina: - aff’
Rose: - Tudo bem. So um momento.
Sabrina: - Rapido.

Me afastei um pouco. Olhei novamente a casa. Bom lá era obvio que era uma casa de programas. Bom, aqui era muito pouco punido isso. Mas fazer o que né? Somente que  convivia com alguem de lá dentro suspeitaria, da bela e linda faixada para um pensionato feminino.

Peguei meu celular. Disquei. Minha mae entendeu na segunda chamada.

Rose: - Mae?
Natalia: - Sim Rose.
Rose: - Mae to ligando para dizer que não vou dormir em casa hoje, vou dormir na casa da Gabi, tudo bem?
Natalia: - Por que?
Rose: - Bom, mãe, a gabi esta doente, ela e eu temos que fazer um trabalho bastante grande para entregar segunda feira. Algum problema?
Natalia: - Amanha voce volta que horas para casa?
Rose: - Eu acho que so volto para pegar umas mudas de roupa mae. Como eu disse o trabalho é bastante grande e acho que vamos levar o fim de semana todo fazendo.
Natalia: - Tudo bem então. Deseje melhoras para a Gabi. Juizo ta filha?
Rose: - Ok mãe. Beijos.
Natalia: - Beijos filha.

Desliguei o celular. Pela primeira vez me sentir uma pessoa ridicularmente ruim. Mentir nunca foi tão dificil para mim. Sabrina estava me olhando. Com pressa, mas ao mesmo tempo com calma. Ela deveria ser uma aliciadora, bom seja o lá o que ela for so preciso de dinheiro e mais nada.

Sabrina: - Pronta?
Rose: - Sinceramente acho que nunca vou estar pronta para isso.
Sabrina: - Voce é virgem? – começou a ri.
Rose: - Não. Mas acho que nunca sera facil para nenhuma mulher vender o seu corpo para qualquer um.
Sabrina: - Vamos. – sua voz se cortou antes que pudesse terminar. Parecia que ela nunca quis isso tambem.
Entrei na casa. A primeira vista era uma casa simples. Tinha cara de ser casa de familia. Mas ao subir para os quartos cheguei a ficar chocada. Moças e mulheres de quase todas as idades possiveis com minis roupas e uma forte maquiagem.

Rose: - Tem menores aqui?
Sabrina: - Tem.
Rose: - Qual a menor de todas?
Sabrina: - É a Miss Sophie. Ela tem apenas 13 anos. Os pais a deixaram aqui pensando que era um pensionato. Mas foi tudo mentira. Ela chegou com apenas 11 anos e meio. Agora nem se incomoda mais.
Rose: - 11 anos?
Sabrina: - Sim. Esse é o lado negro daqui. A maioria gosta de meninas novas, então quanto mais nova melhor.  E por falar nisso quantos anos voce tem?
Rose: - Faço dezessete mês que vem.
Sabrina: - Bom. Sua idade esta otima.
Rose: - Quantos anos voce tem, Sabrina?
Sabrina: - Dezoito. E deixa de conversa. Vem vou te arrumar. Voce tem um programa as dez horas.
Rose: - Mas ainda falta cinco horas.
Sabrina: - Sempre existe uns garotos que vem aqui e ficam no segundo andar. Eles gostam de se, bom, voce sabe, né?
Rose: - Eles não chegam a fazer, não é?
Sabrina: - Não. E nem tem permissão. Madame Flour não deixa.
Rose: - Madame quem?
Sabrina: - Flour. Ela é a dona disse tudo aqui.
Rose: - Ata.

Fomos para o terceiro andar. A casa tinha dois andares fora o terreo. No terceiro tinha alguns quartos que a sabrina disse serem para casos especiais. No fim do corredor tinha um grande quarto, com varias divisorias. E alguns armarios com roupas. Que definitivamente somente uma puta usaria. Tinha tambem uma enorme espelho. Estilo de camarim, para fazer a maquiagem.

Sabrina escolheu uma roupa para mim. E me arrumou. Quando estava pronto, nem me reconheci. Estava totalmente diferente. Ela fez um coque no meu cabelo. E uma maquiagem bastante forte. Minhas roupas mais mostrava que tampava. 



Capitulo 9 – Sonho


“Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Más há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.”
(William Shakespeare)

Olhei para a janela. Foi me dando sono. Acabei adormecendo. O sono me levou para minha antiga cidade. Conhecia cada detalhe.Cada rua. Cada esquina. Vive minha vida aqui. Aqui era meu lar. Meu lar.

Caminhei para perto de um rapaz. Ele olhava o por do sol. Era o por do sol mais lindo que eu tinha visto em toda a minha vida. Tinha em seus tons do laranja mais calmo ao vermelho mais nervoso e o azul celeste banhando a nova noite que surgia.

Era a cena perfeita. O local perfeito. A sensação mais perfeita. Tive medo de avançar. Tinha medo de ser humilhada novamente. Sera que era quem ele? Não dava para ver seus traços. Estava contra luz. Era lindo. Parecia uma pintura em seu jeito único.

Xxx: - Rose? È voce? – ele começou a se virar para mim.
Rose: - Sim sou eu.

Fiquei parada. Ele veio em minha direção. Parecia estar feliz. Como se tivesse vendo um tesouro a muito tempo perdido. Parecia estar encontrando algo muito valioso para ele. Ele se aproximava mais de mim.

Xxx: - Sabia que um dia voce voltaria.
Rose: - Sabia?
Xxx: - Sim. Sempre soube que voce voltaria.

Ele me abraçou como se fosse algo que ele queria me fazer a muito tempo. Seu perfume entrou nas minhas narinas quase queimando. Seu abraço era firme e cheio de saudade. Era ele! Era ele! 

Ele parou de me abraçar e me olhou. Seus olhos cheios de lagrima me olhavam com uma saudade e inexplicavel. Era incrivel o brilho dos seus olhos. E como se fosse perfeito veio e me deu um doce beijo nos meus labios. Era ele! Era ele!

Rose: - Caaaaaaaaaaaaaaaio.
Gabi: - Rose? Tudo bem?
Rose: - Ahn? Como? Cade ele?
Gabi: - Cade quem?
Rose: - O Caio?
Gabi: - Foi so um sonho Rose. Olha estamos em minha casa. O que aconteceu?
Rose: - Nossa parecia tão real. Ele estava lá. Era ele. Era ele.

Meus olhos não conseguiu segurar as lagrimas. Era ele. Era ele. Mas por que eu tava tão tensa assim? Por que eu chorava por uma pessoa que nem fez tanta diferença para mim. E agora eu sonho com ele e acordo desse jeito. O que esta acontecendo comigo?

Demorei para pegar novamente no sono. Aqueles olhos pairavam em minha mente ainda. Caio. Por que o Caio. O que isso quer dizer? No fim das contas voltei a pegar no sono.

Espera poder sonhar novamente. Mas foi em vão. Dormi em um sono calmo. No dia seguinte so me restava poucas lembranças do sonho. Nem me lembrava direito dos detalhes.

A Gabi passou o dia todo querendo saber mais detalhes do Caio. Mas o que eu poderia falar? Se não tinha mais nada para dizer. Nem eu entendia por de tudo isso. Nem sei por que eu estava pensando tanto assim nele.

Por mim ele poderia morrer que não faria diferença para mim. Ele era um zé ninguem na minha vida. Entrou na hora errada, no lugar errado, e na vida errada. Que se dane ele!

Peguei meu celular. Olhei a foto dele lá. Pensei em apagar. Por que eu ficaria com uma foto dele no meu celular? Mas por outro lado. Aquela era a única coisa que eu tinha dele comigo agora. Então: Não apagarei! Tomei uma decisão.

Os dias passaram... E no fim de tudo acabei me esquecendo daquela noite toda. Ate da foto dele eu me esqueci.Tambem o João, começou a entrar na minha vida. Todo dias ele deu para ir me buscar na escola. A Gabi que nunca nega nada aceitava.

A verdade que eu e o João estavamos nos tornando grandes amigos. Voltei ir na casa da mae dele. E fui algumas vezes no apartamento dele. No fim das contas o João era muito legal. Nem parecia ser rico.

Meu celular toca. Olho. È o João.

Rose: - Alo? João?
João: - Sim Ro, to ligando para dizer que não vai para te buscar hoje, desculpa ta?
Rose: - Magina João. Tem nada não. Sera bom uma caminhada para mim e a Gabi.
João: - Ok. Beijos.
Rose: - Beijos.

Desliguei. Teria que ir para casa sozinha hoje. A Gabi não veio na escola hoje. Não estava se sentindo muito bem. Então teria um bom caminho para pensar na vida.

Caminhei para fora da escola. Tinha que me apressar. Estavamos no inicio do inverno. E começaria a fazer frio. Tinha esquecido meu casaco na casa da Gabi. Ela me traria hoje mas como ficou doente. Tudo bem né? So não posso ficar doente tambem.

Xxx: - Ei voce!

 Olhei para tras. Tinha uma moça. Ela era muito bonita. Tinha cabelos ruivos e longos. Uma aparecencia de uma patricinha de cidade grande. Como eu era antes de vir morar aqui. Mas pensei que ela estava falando com outra pessoa e segui me caminho.

Continuei caminhando. E novamente...

Xxx: - Ei voce.. Voce que esta de bolsa lilas.

Então eu vi que era a única que estava na rua. Supostamente a menina estava me chamando. Para que? Por que? Parei. Esperei a menina se aproximar de mim. Ela caminhava diferentemente. Não parecia morar aqui. Tinha algo diferente nela.

Xxx: - Rose Bittencourt? Voce é Rose Bittencourt né?
Rose: - Coo…coo.como voce sabe?
Xxx: - Eu sei de tudo. Tudo sobre voce.
Rose: - Quem é voce?
Xxx: - Eu sou Sabrina Alburqueque.
Rose: - De onde voce me conhece?
Sabrina: - Isso importa?
Rose: - Sim?
Sabrina: - Não!
Rose: - Como?
Sabrina: - Queria te oferecer um emprego. Voce deve ta sentindo falta da sua vida boa de Chicago.
Rose: - Como voce sabe ...
Sabrina: - Voce so sabe perguntar isso? Oh! Se voce quiser um emprego me procure nesse numero.
Rose: - Que tipo de trabalho?
Sabrina: - Um que da muito prazer.
Rose: - Voce estuda no colegio?
Sabrina: - Claro.
Rose: - Por que nunca te vi?
Sabrina: - Deixe de perguntas
Rose: - Voce sempre de segredinhos. Isso já esta me irritando.
Sabrina: - E eu com isso?

Foi tudo  que ela disse antes de sair. Me deixando parada ali.